O tabagismo é uma doença terrível que se alimenta de um
cigarro aceso. Li em algum lugar que do total de fumantes que fazem tratamento
para superar o vício, cerca de 30% voltam a fumar. E que a maioria das recaídas
(cerca de 60%) ocorre nos três primeiros meses de tratamento – a fase mais
crítica.
Isso talvez explique porque é comum conhecermos pessoas que
tenham deixado a bebida e até as drogas, mas raramente alguém que tenha
abandonado o cigarro. Esta semana uma colega que está escrevendo sobre o assunto
me ligou em busca de algum ex-fumante para ilustrar sua reportagem. Por mais
que me esforçasse, no momento não me lembrei de ninguém.
Desconfio que resida na aceitação social do cigarro uma das
grandes dificuldades em se deixar de fumar. O contrário acontece com o
dependente de drogas, que em geral tende a se excluir ou ser excluído do
convívio familiar e com os amigos. O mesmo acontece com os alcoólicos, já que a
bebida só é tolerada se o sujeito é capaz de “beber socialmente”.
Porém, quando alcoólicos e toxicômanos deixam o vício,
parecem mais conscientes que os fumantes: sabem que não podem ter recaídas. Já
o fumador acredita ser capaz de fumar apenas quando bebe, enquanto lê, ou antes
de dormir, e aí volta a fumar, às vezes até com mais intensidade que antes.
É uma pena que seja assim, pois o tabagismo – segundo o
Instituto Chico Anysio – é a maior causa evitável de doença e morte no planeta.
Mata mais que acidentes de trânsito, AIDS, homicídios, suicídios e incêndios –
juntos. É o único produto legal que mata metade de seus consumidores.
O cigarro está ligado aos cânceres de pulmão, laringe,
faringe, traqueia, esôfago, bexiga e mama. Causa envelhecimento precoce,
enfisema, bronquite crônica, trombose, infarto do miocárdio, gangrena,
osteoporose. Em grávidas, leva a descolamento prematuro de placenta, morte
fetal, nascimento de bebês de baixo peso e com predisposição a diversas
doenças.
Nada disso, porém, impede que mais de um bilhão de pessoas
no mundo ainda fumem. A cada ano, aproximadamente seis milhões morrem por causa
do tabagismo. “Se não forem adotadas medidas urgentes, ele poderá matar ao
longo do século XXI até um bilhão de pessoas”, alerta texto publicado no site
do Instituto Chico Anysio.
Por tudo isso, há sete meses, deixei de fumar. Para evitar
possíveis recaídas estou tentando me comportar – em relação ao cigarro – como
os alcoólicos anônimos: sou “fumante em recuperação”. Agradeço a Deus
por não ter fumado nas últimas 24 horas e peço-Lhe mais um dia sem cigarros.
Amém.
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