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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Da função do social do sebo

Palmas completou 25 anos, tem cerca de 250 mil habitantes, uma única livraria e nem um sebo. Sebo ou alfarrabista é o nome popular que se dá àqueles locais que compram, vendem e trocam livros usados.



Um livro de poesia na gaveta não adianta nada/
 lugar de poesia é na calçada..

Cada Lugar Na Sua Coisa (Sérgio Sampaio)





O sebos cumprem função social importantíssima: a de disseminar o conhecimento de forma mais acessível. Além disso, tornam-se pontos culturais, locais de encontro daqueles que amam a literatura e a arte em geral.

Só conhece a importância de um bom e velho sebo quem já frequentou um. Como são diferentes das tradicionais livrarias! Nos sebos os funcionários são ‘livreiros’ – pessoas aptas a indicarem um bom livro, de acordo com o gosto de cada cliente; que sabe onde está o livro procurado leitor/cliente.

Nos sebos, os livros mais conservados são mais caros. Pessoalmente, prefiro aqueles sublinhados, com anotações, observações e comentários do(s) primeiro(s) proprietário(s). É assim que faço com os meus. Não sou um leitor cortês.

Há algum tempo, um amigo me trouxe de Bogotá uma bela edição de La Hojarasca  (A Revoada), de Gabriel García Márquez. Emocionado, ao ver o título em espanhol, folheei com ansiedade o livro à procura de alguma observação, uma simples frase em alguma página, e nada... Serei sempre grato ao amigo colombiano, mas não me canso de xingar o(s) cabrón(es) que o leram antes de mim.

Voltando aos sebos, eles desempenham papel considerado essencial aos historiadores,  pesquisadores e leitores em geral, como resumiu um ‘sebo virtual’ na página inicial de seu site. “Os significados das palavras memória, preservação, cultura, educação e conhecimento encontram no sebo um grande aliado.”

Ao discutir o assunto com um amigo, ele me disse que em época de E-Book como a nossa, livro (sobretudo usado) é antiquando, além de muitas vezes ser visto como “coisa de pobre”. A essa pessoa eu pensava propor uma sociedade e, juntos, abrirmos um sebo. Acho que ele não está muito interessado...

Os livros vendidos nos sebos são em geral mais baratos. Entretanto, existem obras caríssimas nestes locais. São aquelas com alto valor histórico – livros raros, autografados, primeiras edições, os que levam encadernações especiais... Além disso, os sebos são frequentados por pessoas importantes, como juízes, políticos, advogados, cientistas, estudiosos, colecionadores, amantes da leitura em geral.

Eu disse que pensava em abrir um sebo. Não penso mais. E não é apenas por causa do meu (fútil) amigo. É que me lembrei de um conselho do grande bibliófilo e acadêmico brasileiro José Mindlin, falecido em 2010, que dizia o seguinte: “se você ama os livros, leia-os. Não os venda”. Referia-se à sua malsucedida empreitada de possuir uma livraria, na qual aconselhava os clientes a não comprarem certos livros, que ele, Mindlin, pretendia ter em sua própria biblioteca.

P.S.

Descubro, frustrado, que não tenho também livros nem dinheiro suficientes para começar o negócio. Por razões óbvias, tenho mais E-Books que livros. Acredito que um sebo de ‘livros digitais’ não dá muito certo, entre outros motivos porque todos iriam pedir para “baixá-los” de graça.

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